Há muito tempo
vi uma propaganda numa destas revistas semanais “de tudo um pouco” na qual
exibia uma imaginária sucessão de camadas de povoamentos ( como quando
acontecem grandes deslizamentos de terra ), mostrando caveiras de piratas, de
lutadores, moedas, partes de casa antigas e, finalmente, uma metrópole. Tudo
isto num corte do solo mostrando até mesmo esgotos, galerias subterrâneas e
etc. Ou seja, em cima de todas as destruições e dejetos, moramos e vivemos.
Dia destes,
passando em frente a um supermercado, observei que o cheiro (sim, este é do
exemplo é sempre catingoso) havia começado a ser sentido há uns 2m ou mais da
calçada, sarcasticamente eu fiz um elogio mental: estão em progresso! Afinal,
se somos cosmopolitanos ou cosmopolitadeiros, havemos de esperar as esperadas
melhorias, no sentido de aumentos. Na Europa vemos lugares limpos e cheirosos,
com pessoas asquerosamente educadas, mas isso é lá naquele fim-de-mundo...
Por cá (não é
‘porca’) somamos esgoto às águas, pra indicar evolução das cidadelas e dos
aglomerados de massas. Pintamos as nuvens de marrom-fuligem, pra quem navega
saindo de Niterói à Pça. XV não perder o amor à tal glamourosa e adiantada
cidade. Local este que estudou nas cadeiras de mestrado de sua prima, São
Paulo: estamos em plena implantação de ruas na base de 20km/h máximos...
Rinites,
faringites, taquicardias, esgotamentos físicos e mentais e outras evoluções
desde várias décadas estão germinando; dos anos 80 pra cá conseguiram florestar
consultórios, UPAS e lares. Nos locais de trabalho? Aí depende. Se for um local
pequeno, estilo ‘família’, não pode. Não rima. Sendo um local agrandalhado e
cheio de técnicos, engenheiros, tecno-burocratas, contadores, boys, gerentes e
propagandas, aí tudo bem; e´ essencial termos isso, pois os planos de saúde
precisam ser usados! Quem vai querer aguardar semanas ou meses por um eletro-cardiograma
no SUS?
Lembro-me das
hibernantes figuras nas barcas leviatânicas e ébrias singrando as lamas
líquidas da Baía de Guanabara: eram muitas pessoas que ‘entregavam a alma’ em
suaves dormidas. Várias mulheres trajadas à moda boutique perdiam a pompa e
jogavam cabeças pra trás e esparramavam as canelas a dormir. Outros, seguiam em
amistosas e urbanas prosas. Havia até mesmo coros religiosos, no andar de cima.
Que passado mais primata! Nas velozes barcas de hoje, impera apenas a pressa e
descortesias várias.
Você ainda não
desfruta disto em seu bairro? Só tem um esgotinho de leve? Algum fluxo de água
semi-tranparente ainda é visto devido a alguma mata cheia de árvores porcas com
suas sujeiras de galhos e passarinhos cagões, que impedem ouvirmos os brados de
canções de algum Mc? Não se apavore! Compre um pacote de canais com a visão
escravizadora de estrangeiros, coma alguma coisa junk tipo pizza e evite suar, andando a pé ou exercitando-se. Ah,
não perca tempo falando com pessoas: abuse dos ciber-papos, chats e outros
abstratores de vínculos realistas.
Agora que
destroçamos, degeneramos, e quase nem água temos, é que despertamos pra
Sustentabilidade e pras reciclagens: estamos ficando sem coisas; temos que recomer
e reusar os lixos! A Sustentabilidade puramente, não nos salvará. Temos que
rever o que realmente precisamos ter, fazer, comer e até mesmo o que/como nos
relacionarmos. Viva as bicicletas, as poesias escritas e decoradas, as
pracinhas bucólicas interioranas e seus vovôs e suas cartas e histórias
tetra-repetidas.
Termino meu
pequeno relato parabenizando os governantes que produzem mais pombais,
produtores de caudais e cáusticos jorros de brutal esgoto em canalizações
totalmente projetadas para alagamentos vários, com direito a pipizinho de
simpáticos roedores a nos banhar as pernas em dias de chuvas semi-ácidas (breve
serão acidas de fato) causadas por excesso de massas quentes dos pedregosos
quintais concretados para a cocozada canina, skates e churrascos vários.
R.S.Costa
Maricá,
26-03-2012
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